domingo, 24 de janeiro de 2010

Muito morais


Na roça, tudo esteve em ponto de diálogos desses:
- ... é... cê acha que chove?
- ... ãh... uhmm... deve que chove.
Cinco minutos depois, eu com o Sagarana no colo.
- ... esse livro é sobre astrologia?
Só ri, sem fazer som.
- É.
Mais minutos.
-... é... pois é...
Sete minutos, adiante.
- ... é... pois é... então... deixa pra lá, né? Melhor assim.
- ... é.
Dois minutos passaram-se.
- Ó, lá! Aquele mesmo casalzinho de sabiás.
- Uhm... mas que gracinha. Como é o nome daquele mais azulado?
- É galinho do campo. Ó o João-de-barro. Nenhum que canta...
- Sabe que ele, depois que pega a mulher adulterando, tranca a perversa na casinha deles, vôa lá em cima e dá de ponta no chão?
- É! O pedreiro da floresta não é civilizado.
- É... pois é...
Dez minutos depois.
- Bem que essas maritacas podiam suicidar também.
Que elas tão fazendo muita farra no sorgo e vai desperdiçar, eles acham. Mas quem torce os pendões, desfaça-se a injustiça, já se sabe, são as dubanos.
Nem sempre onde há farra, há também desordem!

Sertão global


Um tal João Toicim
lá do São Brás
mudou pros Estados Unidos
e voltou, agora,
Jhon Bacon.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

OS MAIS FAMOSOS


Comecei a pegar preguiça do Candim de aliança ainda nova. A gente morava na Vereda, pra cá do Alegre. Em eu solteira, vivia pra lá, no Gavião. Tudo diferençou muito... a gente gostava de um pagode. Eu era moça famosa, dançadeira. Antes das festas, ia com a Isaldina pro córrego e passava folha de mamoeiro nos braços, nas pernas, ficava maciinha... Babosa no cabelo... Tinha quinze namorados, e contava vantagem. Ele, igual. Nós dois, os mais famosos. Como é que eu fui casar logo com esse ? Vivi abusada...
Meu pai me influía:
- A Umbelina é caprichosa... Asseada...

E era. Trazia os pés ariadinhos, diária. Na venta boa, o papai falava que eu tinha cheiro de pudrim novo. Á ! Quem é que tolera gente ardida ? Quando o Candim visitava o papai, eu levava merenda no salão. Naquele prazo, a gente namorava. Uma vez ele pegou minha mão, na hora de despedir. Falou assim:
- Até...
A casa vivia cheia. Meu pai era farturento. E seguro. De vera... Aquele mundo de biscoito de polvilho nas latas, em eu menina. Em moça, o papai gostava de me fazer gosto. E eu tenho uma mão pra broinha, mané pelado e mingau... Na seca ou se dava um veranico, ele ficava liberal. Trabucar no sol era bom só se fosse regalado. Invernando, dava de regular o leite, o queijo, o côco... Buscar tanto pau só pros de casa? Pra quê ? Êlêlê... Fosse paçoca de carne seca ou pão de queijo, a gente pregava a boca. E por cima café. Nem todo dia é de broinha de amendoim. Ficava desse jeito. Vinha janeiro... Aquelas mangadas de criar planta, o milho já de boneca... Daí mês, estiando, o Candim vinha sapear.
- Pamonha ! – meu irmão gozava.

- Vai explorar os pretos ! – por desaforo.
Todo mundo ria, no terreiro, ralando milho. O Candim até que ajudava... Mas cabelo não catava. Queria ser mais bonito que os outros. Sapeava ali um prazo, depois buscava pau no mato, ralava milho e contava mentira a noite inteirinha. Isso na Conceição.
Na Vereda, a gente não tinha mais alegria.
- Pamonha é só pra fazer espiniqueira no terreiro.
Oiô ! Eu que trabalhava igual uma égua. O Candim só queria saber do vem a nós. Pinzeiro nenhum. Pois se era mutirão ! Á ! Ele trelava o cavalinho e caía no mundo. Eu ficava só com aquela ninhada e serviço. Nunca queijo, nunca côco, nunca leite. Como é que agora ele não queria mais mané pelado... Ridico.
Em 1970, vendeu nosso chão na Vereda. Aí, botou carneiro, água na porta. O preço do chão ficava o mesmo, mas o retrato... Eu já tava em tempo de sair no cacete com o pamonha. Era só boniteza. E tudo estraga a gente, que é mulher. Mandamos pro Lagamar, levando as galinhas e dez capados. Gado, ele não campeava mesmo. E ninguém tinha cerca... Ficou... Os meninos agora iam buscar o soro que a Fábrica de Leite jogava no córrego de esgoto, pra engorda. Depois, vendiam ovo e galinha. Aprendi corte de costura. Ainda bem que, no comércio, não tinha nem pau no terreiro. Acabou o divertimento dos meninos de tacar pedra nos guaches flagelando os pés de mamão e laranja. O Candim falava:

- Comércio não é lugar de pau. Faz sombra no chão.
Por mim, botava cimento em tudo. Tenho uma preguiça danada de sujeira na porta. Mistura, até tinha. Abóbora, quiabo, pepino, que eu plantava. Punha os meninos pra arrancar mato. Meu cabelo ? Vivia aquela bandeira ! Não punha nem a cara na rua. Era no chitão direto. Um dia, o Candim ainda gabou a moça do Onofre, da venda. Pensei ah caboclim... Eu já numa ojeriza danada... Aí, o um já vivia à-toa mesmo, ainda deu pra baralho e catira. Quando é fé, chega com doença da rua.
Tinha numa cabaça a pinga de abrir apetite. Essa era dele, particular. Mas aquilo tava um veneno... o mangango vinha avisando, beija-flor preto... Mas o Candim, finado patuá, agüentasse com a mandinga ! Muitos Candins batiam as botas de repente, de piripaque. Banha demais no de comer... Pimenta a reveria... E pinga !
Acabei de criar a tropa com costura. Me valeram e me valerão. E tenho uma preta que passa, lava e faz de toda quitanda ! Meus prazeres... Desde viúva, eu é que vivo na seda e renda, negras. As casimiras dele, dei pros pobres. Passo TRIM no cabelo, pó de arroz, perfume da AVON e vou pra igreja terça e quinta. Sábado tem reunião de oração nas casas. Domingo, de manhã e de noite. Arranjei os mais velhos, a caçula derradeira ainda tá dentro de casa. Não é lá bem famosa... E já vai ficando erada !

Eu, muito alegre, mimosa e roliça. Graças a Deus.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

ai ai ai

Ai ai ai
Querido...

O amor é lindo.
O amor é lindo.
O amor é lindo.

Ai ai ai
Ingrato...

domingo, 2 de novembro de 2008

VOVÔ TUBE

Vovô...
You tube...

Rateio:
Sivuca
Aqui,
Neste, naquele,
Mais o Hermeto
Em casa,
Em show,
Sanfona,
Piano,
Camisa floral,

Eu já espraiada...

Súbito:
Mário Zan!

Justo foco.

Dizem que um homem
Não deve chorar
Por uma mulher...

Bolero vai bolero vem...

Justo foco.

Uma dona rechonchuda
Entoa, periódica,
A cabeça pra lá pra cá
Sorri boa filha
Boa gente
D´além mar
Toda em seda.

Sucesso de vendas,
O quarto centenário
Do decoro.

Nem boiada no Mato Grosso
Nem Pantanal
Nem buritis
Nem siriemas
Nem o próprio Tião Carreiro
Em pessoa
Chumbado
Pelo veneno da morena.

Nada como aquele bolero
Pela rechonchuda
Em seda
Periódica
E sucesso.

É é má nota minha
Apelar pra apito
Em copos d´água
Xaxado
Jandaias e
Trompetes zunindo.

Pelo pé de bode!

Que o suspiro,
Além da memória,
Ama o silêncio

Perfeito:

Toda música.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

ELEGÂNCIA



Lá vai seu Luis
descendo a rua
com seu Ramenzoni XXX.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

ALCEBÍADES


Duca Ozório. Fazendeiro... Desse, o comum – bravo! O cerrado chega abaixava; era ele passando. Nasceu primeiro: a chave ou a fechadura? Tempo que assa, frege. Com ele, quem arrasta mala? Quis o chãozinho do Alcebíades, também: moço, órfão, pobre, cego de um olho. O irmão do Matusalém. Esses Lopes. Viessem: um sargento e dois soldados. Nem apiaram, o Bia arrepiou com eles. Opa!
- Meu negócio não é com vocês. Vão. O Juca e eu ficamos. Sô... Conheço esses trilhos... De manhã, de tarde e de noite.
Amoitava?!
Não mesmo. Topando o sujeito, metia um tiro de carabina na testa dele, passava por cima e ia trabalhar. Seo Juca, já dono. A mata dos Pereira inteirada, quase.
O Bia? Para amigo da gente. Mais. Estudou Matusalém. Esse, casou com mulher bonita. Era. Mas demais. Morreu novo do coração. O Bia também. Casado, viúvo, casado. Mata dos Pereira... Puro barbeiro. Até o Amerquim teve chagas – diga-se.